A presença de padres homossexuais dentro da Igreja Católica, embora antiga e significativa, sempre foi mantida sob um véu de silêncio institucional. A temática, evitada há séculos pela hierarquia eclesiástica, ganha agora espaço no livro A vida secreta dos padres gays: Sexualidade e poder no coração da Igreja (Matrix Editora), recém-lançado pelo jornalista e ex-seminarista Brendo Silva.
A obra, fruto de uma investigação profunda, reúne relatos de 16 homens ligados diretamente ao ambiente eclesiástico — entre eles padres em atuação, seminaristas e religiosos que deixaram a batina. Todos têm algo em comum: são homossexuais e enfrentaram o peso do silêncio e da repressão dentro de uma das instituições mais influentes do mundo.
Experiência pessoal se transforma em denúncia
Brendo Silva, que entrou para o seminário aos 14 anos, conta que a descoberta de colegas com orientação sexual semelhante à sua foi inicialmente um choque, mas rapidamente se transformou em identificação. “Era um ambiente de constante vigilância e silêncio. Mas muitos eram gays — e isso me fez perceber que não estava sozinho”, afirma.
Com o passar dos anos, Brendo começou a notar uma desconexão entre o discurso moralista da Igreja e o que realmente ocorria nos bastidores da vida clerical. “Como é possível condenar a homossexualidade do púlpito sendo que muitos de nós, inclusive eu, éramos gays? Havia uma hipocrisia estrutural.”
O celibato como escudo
Segundo o autor, a imposição do celibato clerical, além de um voto espiritual, tornou-se também uma ferramenta conveniente. “A obrigatoriedade do celibato impede que se discuta abertamente a sexualidade dos padres. Isso evita o debate sobre relacionamentos homoafetivos entre membros do clero, o que, para a estrutura da Igreja, ainda é um tabu intransponível.”
A repressão, nesse cenário, se converte em instrumento de controle. “A Igreja funciona com base na culpa e no medo. Isso dá poder ao discurso moralista. Sem repressão, a fé institucional perderia parte da sua força de dominação.”
Influência dos gays na construção da fé católica
Um dos trechos mais provocativos do livro é quando Brendo destaca o protagonismo de homens gays na formação da estética e da liturgia católica. “É inegável: grande parte da arte sacra, das celebrações solenes, das expressões mais belas da fé católica tem a contribuição direta de homens homossexuais. Michelangelo, Da Vinci e tantos outros moldaram a herança visual da Igreja com sua sensibilidade.”
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